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domingo, 24 de março de 2013

83 - Pablo Neruda: Tira-me o pão, se queres; Orlando Silva: Rosa

Pablo Neruda pede tire-me tudo, porém nunca me tires o teu riso. Não me tires a rosa... 
Essas duas frases me lembram de duas outras obras primas. A primeira é o Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry... Falando sobre o riso... Ao perder o Pequeno Príncipe, o aviador afirma:

E eu compreendi que não podia suportar a ideia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto... (Antoine de Saint-Exupéry)

A isso o príncipezinho responde: “ – E quando estiveres consolado (a gente sempre se consola), tu ficarás contente por teres me conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E às vezes abrirás tua janela apenas pelo simples prazer... E teus amigos ficarão espantados de ver-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: “Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!” E eles te julgarão louco. Será uma peça que te prego...
E riu de novo.
– Será como se eu lhe houvesse dado, em vez de estrelas, montes de pequenos guizos que sabem rir...”


Tomara que a gente sempre se console...

A outra obra, que também me lembra o Pequeno Príncipe, é Rosa, de Pixinguinha, aqui cantada por Orlando Silva... Uma das maiores declarações de amor que conheço. Rosa que também lembra o Pequeno Príncipe...




Pablo Neruda

Teu Riso

Tira-me o pão, se queres,
Tira-me o ar, porém nunca me tires o teu riso.

Não me tires a rosa, a lança que debulhas,
A água que de repente em tua alegria,
Estala essa onda repentina de prata que te nasce,

De áspera luta volto com olhos cansados
por vezes de ter visto a terra que não muda,
Mas ao chegar,
O teu riso sobe ao céu me buscando,
E abre para mim todas as portas desta vida.

Amor meu, no momento mais escuro,
Desata o teu riso, e se, acaso vês que meu sangue
Mancha as pedras do caminho,
Ri, porque teu riso será em minhas mãos
Como uma espada nova.

Junto do mar, no outono,
Teu riso deve erguer sua cascata de espuma,
E em primavera, amor quero teu riso
Como a flor azul, a rosa da minha pátria sonora.

Que te rias da noite, ri do dia, da lua,
Das ruas tortas da ilha,
Ri deste desajeitado rapaz que te ama tanto,
Porém, quando mal abro os olhos, quando os fecho,
Quando os meus passos vão, quando os meus passos voltam,
Nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera,
Porém nunca o teu riso,
Senão amor, eu morro.

Orlando Silva - Rosa

Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada e formada com ardor
Da alma da mais linda flor de mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
O teu coração junto ao meu lanceado pregado e crucificado 
Sobre a rósea cruz do arfante peito teu
Tu és a forma ideal, estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação que em todo coração sepultas o amor
O riso, a fé e a dor em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela, és mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus quanto é triste a incerteza de um amor 
Que mais me faz penar em esperar em conduzir-te um dia aos pés do altar
Jurar, aos pés do onipotente em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos em nuvens de beijos
Hei de te envolver até meu padecer de todo fenecer



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