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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

52: Fernando Pessoa: Ninguém a outro ama; Sílvio Caldas: Chão de estrelas

Fernando Pessoa lembrando que amamos não ao outro, mas aos nossos desejos que nele projetamos. Por isso amamos e deixamos de amar, sem que o outro tenha feito nada nem para uma ação nem para a outra. Não amamos o ser amado, senão o que de nós encontramos nele. Quando deixamos de encontrar essa parte escondida no outro, o amor se esvai... E esse amor, como diz Sílvio Caldas em Chão de Estrelas, “palhaço das perdidas ilusões”, lembrando a saudade das coisas simples (Ah, as coisas simples) do dia a dia e da mulher, pomba rola que voou...

Ninguém a outro ama, senão que ama 
O que de si há nele, ou é suposto. 
Nada te pese que não te amem. Sentem-te 
Quem és, e és estrangeiro. 
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca. 
Firme contigo, sofrerás avaro 
      De penas.

Música

Sílvio Caldas, Chão de estrelas.

Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão

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