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sexta-feira, 17 de maio de 2013

138 - Pessoa: Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio; Oswaldo Montenegro Léo e Bia


Pessoa pede à mulher desejada que sente-se com ele à beira do rio, e que enlacem as mãos. Aproveitem a vida, porque “Depois pensemos, crianças adultas, que a vida passa e não fica, nada deixa e nunca regressa”, Então, é preciso ter sabedoria para amar e viver o amor. Como diz Oswaldo Montenegro, “Cuidar de amor exige mestria, e Léo e Bia souberam amar”. 


Fernando Pessoa

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. 
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos 
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. 
            (Enlacemos as mãos.) 

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida 
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, 
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, 
            Mais longe que os deuses. 

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. 
Quer gozemos, quer nao gozemos, passamos como o rio. 
Mais vale saber passar silenciosamente 
            E sem desassosegos grandes. 

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, 
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, 
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, 
            E sempre iria ter ao mar. 

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos, 
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, 
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro 
            Ouvindo correr o rio e vendo-o. 

Não quero recordar nem conhecer-me. 
Somos demais se olhamos em quem somos. 
      Ignorar que vivemos 
      Cumpre bastante a vida. 

Tanto quanto vivemos, vive a hora 
Em que vivemos, igualmente morta 
      Quando passa conosco, 
      Que passamos com ela. 

Se sabê-lo não serve de sabê-lo 
(Pois sem poder que vale conhecermos?) 
      Melhor vida é a vida 
      Que dura sem medir-se.


No centro de um planalto vazio
Como se fosse em qualquer lugar
Como se a vida fosse um perigo
Como se houvesse faca no ar
Como se fosse urgente e preciso
Como é preciso desabafar
Qualquer maneira de amar varia
E Léo e Bia souberam amar
Como se não fosse tão longe
Brasília de Belém do Pará
Como castelos nascem dos sonhos
Pra no real, achar seu lugar
Como se faz com todo cuidado
A pipa que precisa voar
Cuidar de amor exige mestria
E Léo e Bia souberam amar

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