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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

235 - Pablo Neruda - Nos bosques; Milton Nascimento e Chico Buarque – Cio da Terra

Pablo Neruda

NOS BOSQUES, perdido, cortei um ramo escuro
e aos lábios, sedento, levantei seu sussurro:
era talvez a voz da chuva chorando,
um sino fendido ou um coração cortado.

Algo que de tão longe me parecia
oculto gravemente, coberto pela terra,
um grito ensurdecido por imensos outonos,
pela entreaberta e úmida escuridão das folhas.

Por ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avelã cantou sob minha boca
e seu vagante olor subiu por meu critério

como se me buscassem de repente as raízes
que abandonei, a terra perdida com minha infância,
e me detive ferido pelo aroma errante.


Debulhar o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel

Afagar a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão

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