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quinta-feira, 25 de julho de 2013

200 - Pablo Neruda - Posso escrever os versos mais tristes esta noite; Vinícius de Moraes, Maria Betânia e Toquinho – Apelo

Neruda falando do processo de esquecimento... e Vinícius faz um apelo na tentativa de não esquecer, mas entremeada do Soneto da separação. Mas no final não se esquece, mas algo se transforma.

Pablo Neruda

Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escrever por exemplo: "a noite está estrelada e tiritam, azuis, os
astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a amei e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado seus grandes olhos fixos?
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi.
Ouvir a noite imensa mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo. Isso é tudo.
Ao longe alguém canta ao longe.
A minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim, o meu olhar procura-a,
O meu coração procura-a, ela não está comigo.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo é verdade, mas talvez ame ainda.
É tão curto o amor e tão longo o esquecimento.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
A minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa
E estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.


Ah, meu amor não vás embora
Vê a vida como chora, vê que triste esta canção
Não, eu te peço, não te ausentes
Pois a dor que agora sentes, só se esquece no perdão
Ah, minha amada me perdoa
Pois embora ainda te doa a tristeza que causei
Eu te suplico não destruas tantas coisas que são tuas
Por um mal que eu já paguei
Ah, minha amada, se soubesses
Da tristeza que há nas preces
Que a chorar te faço eu
Se tu soubesses num momento todo arrependimento
Como tudo entristeceu
Se tu soubesses como é triste
Perceber que tu partiste
Sem sequer dizer adeus
Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus
(falado por Vinícius de Moraes)
De repente do riso fez-se o pranto,
silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento,
Que dos olhos desfez a última chama,
E da paixão fez-se o pressentimento,
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente não mais que de repente,
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo, o distante,
Fez-se da vida uma aventura errante,
De repente não mais que de repente.
(novamente no ritmo da música)
Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus.
Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus.

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