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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

277 - Camões: Soneto de véspera; Pavaroti, Mario Lanza: Nessun dorma

Enquanto Camões de esperar e de buscar o reencontro, Pavaroti vai em busca: Nessun dorma...

Camões

SONETO DE VÉSPERA

Quando chegares e eu te vir chorando
De tanto te esperar, que te direi?
E da angústia de amar-te, te esperando
Reencontrada, como te amarei?

Que beijo teu de lágrima terei
Para esquecer o que vivi lembrando
E que farei da antiga mágoa quando
Não puder te dizer por que chorei?

Como ocultar a sombra em mim suspensa
Pelo martírio da memória imensa
Que a distância criou - fria de vida

Imagem tua que eu compus serena
Atenta ao meu apelo e à minha pena
E que quisera nunca mais perdida...

Veja o vídeo no link abaixo:
Nessun dorma! Nessun dorma!
Tu pure, o Principessa,
nella tua fredda stanza
guardi le stelle che tremano
d'amore e di speranza!

Ma il mio mistero è chiuso in me,
il nome mio nessun saprà
No, no, sulla tua bocca lo dirò,
quando la luce splenderà!
Ed il mio bacio scioglierà
il silenzio che ti fa mia!

Il nome suo nessun saprà
E noi dovrem, ahimè, morir, morir.

Dilegua, o notte! Tramontate, stelle!
Tramontate, stelle! All'alba vincerò!
Vincerò! Vincerò!

Ninguém Durma

Ninguém durma! ninguém durma!
Tu também, ó princesa,
na tua fria alcova
olhas as estrelas que tremulam
de amor e de esperança!

Mas o meu mistério está fechado em mim,
O meu nome ninguém saberá
Não, não, sobre a tua boca o direi,
Quando a luz resplandescer!
E o meu beijo destruirá
o silêncio que te faz minha!

O seu nome ninguém saberá
E nós deveremos, ai de nós, morrer, morrer!

Desvaneça, ó noite! Desapareçam, estrelas!
Desapareçam, estrelas! Na alvorada vencerei!
Vencerei! vencerei!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

276 - Neruda: É hoje; AndreaBocelli: Sogno

Neruda

É HOJE: todo o ontem foi caindo
entre dedos de luz e olhos de sonho,
amanhã chegará com passos verdes:
ninguém detém o rio da aurora.

Nínguém detém o rio de tuas mãos,
os olhos de teu sonho, bem-amada,
és tremor do tempo que transcorre
entre luz vertical e sol sombrio,

e o céu fecha sobre ti suas asas
levando-te e trazendo-te a meus braços
com pontual, misteriosa cortesia:

por isso canto ao dia e à lua,
ao mar, ao tempo, a todos os planetas,

a tua voz diurna e a tua pele noturna.

Veja o vídeo no link abaixo:
AndreaBocelli: Sogno

Va ti aspetterò
Il fiore nel giardino segna il tempo
Qui disegnerò
Il giorno poi del tuo ritorno

Sei così sicura del mio amore
Da portarlo via con te
Chiuso nelle mani che ti porti al viso
Ripensando ancora a me
E se ti servirà lo mostri al mondo che

Non sa che vita c'è
Nel cuore che distratto sembra assente
Non sa che vita c'è
In quello che soltanto il cuore sente, non sa

Qui ti aspetterò
E reberò i baci al tempo

Tempo che non basta cancellare
Coi ricordi il desiderio che
Resta chiuso nelle mani
Che ti porti al viso ripensando a me
E ti accompagnerà passando le città da me

Da me che sono ancora qui
E sogno cose che non so di te
Dove sarà che strada farà il tuo ritorno
Sogno

Qui ti aspetterò
E ruberò i baci al tempo
Sogno
Un rumore il vento che mi sveglia
E sei già qua

Sonho

Vai te esperarei
A flor no jardim marca o tempo
Aqui desenharei
O dia da tua volta

És tão segura de meu amor
Que o leva consigo
Fechado nas mãos que leva à face
Pensando ainda em mim
E se achar necessário o mostre ao mundo

Que não sabe que vida há
No coração que distraído parece ausente
Não sabe que vida há
Naquilo que só o coração sente,não sabe

Aqui te esperarei
E roubarei os beijos ao tempo

Tempo que não pode apagar
Com lembranças o desejo que
Fica fechado nas mãos que leva à face
Pensando ainda em mim
E te acompanhará passando cidades por mim

Por mim que ainda estou aqui
E sonho coisas que eu não sei de ti
Onde estará por qual caminho retornará
Sonho

Aqui eu esperarei
E roubarei os beijos ao tempo.
Sonho.
Um som, o vento que me desperta

E já estás aqui

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

275 - William Shakespeare: Confia em meu amor; Andrea Bocelli: Per amore

Shakespeare, em um quase haicai... pequeno mas completo. E Bocelli, reforçando o tema.

William Shakespeare

Confia em meu amor


Duvida da luz dos astros,
De que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
Mas confia em meu amor.


Io conosco la tua strada
Ogni passo che farai
Le tue ansie chiuse e I vuoti
Sassi che allontanerai
Senza mai pensare che
Come roccia io ritorno in te
Io conosco I tuoi respiri
Tutto quello che non vuoi
Lo sai bene che non vivi
Riconoscerlo non puoi
E sarebbe come se
Questo cielo in fiamme
Ricadesse in me
Come scena su un attore

Per amore
Hai mai fatto niente
Solo per amore
Hai sfidato il vento e urlato mai
Diviso il cuore stesso
Pagato e riscommesso
Dietro questa mania
Che resta solo mia?

Per amore
Hai mai corso senza fiato
Per amore
Perso e ricominciato?
E devi dirlo adesso
Quanto di te ci hai messo
Quanto hai creduto tu
In questa bugia
E sarebbe come se
Questo fiume in piena
Risalisse a me
Come china al suo pittore

Per amore
Hai mai speso tutto quanto, la ragione
Il tuo orgoglio fino al pianto?
Lo sai stasera resto
Non ho nessun pretesto
Soltanto une mania
Che resta forte e mia
Dentro quest'anima che strappi via
E te lo dico adesso
Sincero con me stesso
Quanto mi costa non saperti mia
E sarebbe come se
Tutto questo mare
Annegasse in me


Por Amor

Eu conheço a tua estrada
cada passo que fará
as tuas ânsias fechadas e os vazios
pedras que ficarão longe
sem nunca pensar que
como rocha eu volto em você
Eu conheço os teus respiros
tudo aquilo que não quer
Você sabe bem que não vivi
reconhece-lo não pode
E seria como se
este céu em chamas
recaísse em mim
como a cena de um ator

Por amor
nunca fez nada
só por amor
tens desafiado o vento e nunca gritou
idealizou o mesmo coração
corrompido e recomeço
atrás desta mania
que fica só para mim?

Por amor
nunca correste sem força
por amor
perdido e recomeçado?
e deves dize-lo agora
quanto de você está no meio
quanto você acreditou
nesta mentira
E seria como se
este rio em abundancia
viesse contra mim
como declinação de um pintor

Por amor
nunca gastaste tudo quanto, a razão
o teu orgulho até o choro?
Sabes esta noite fico
não tenho nenhum pretexto
só tenho uma mania
que fica forte dentro desta
minha alma que arrancas fora
E te falo agora
sincero comigo mesmo
quanto me custa saber que não és minha
E seria como se
todo este amor

afogasse em mim

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

274 - Pablo Neruda: Tua mão; Andrea Bocelli: Concerto de Aranjuez

Para ler Neruda falando de tua mão, Bocelli interpretando Rodrigo, no Concerto de Aranjuez.

Pablo Neruda

TUA MÃO foi voando de meus olhos ao dia.
Entrou a luz como uma roseira aberta.
Areia e céu palpitavam como uma
culminante colmeia cortada nas turquesas.

Tua mão tocou sílabas que tilintavam, taças,
almotolias com azeites amarelos,
corolas, mananciais e, sobretudo, amor,
amor: tua mão pura preservou as colheres.

A tarde foi. A noite deslizou sigilosa
sobre o sonho do homem sua cápsula celeste.
Um triste olor selvagem soltou a madressilva.

E tua mão voltou de seu vôo voando
a fechar sua plumagem que eu julguei perdida

sobre meus olhos devorados pela sombra.

Ouça a música no link abaixo:

En Aranjuez Con Tu Amor

Aranjuez,
Un lugar de ensueños y de amor
Donde un rumor de fuentes de cristal
En el jardín parece hablar
En voz baja a las rosas
Aranjuez,
Hoy las hojas secas sin color
Que barre el viento
Son recuerdos del romance que una vez
Juntos empezamos tu y yo
Y sin razón olvidamos
Quizá ese amor escondido esté
En un atardecer
En la brisa o en la flor
Esperando tu regreso
Aranjuez,
Hoy las hojas secas sin color
Que barre el viento
Son recuerdos del romance que una vez
Juntos empezamos tu y yo
Y sin razón olvidamos
En Aranjuez, amor
Tu y yo

En Aranjuez Con Tu Amor (Tradução)

Aranjuéz…
Um lugar de sonhos e de amor
Onde o ruído de fontes de cristal no jardim
Parece falar
em voz baixa às rosas

Aranjuéz,
Hoje, as folhas secas e sem cor
atrapalhando o vento
São lembranças do romance, que uma vez,
Juntos, eu e você cometamos
E, sem motivo, esquecemos

Quem sabe esse amor ainda está escondido,
em um entardecer, numa brisa ou numa flor
Esperando que você volte…

Aranjuéz…
Hoje, as folhas secas e sem cor
impedindo o vento de soprar
São lembranças do romance que, uma vez,
Juntos, eu e você cometamos
E sem motivo, esquecemos

Em Aranjuéz, meu amor
Você e eu

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

266 - Cecília Meireles: Canção da tarde no campo; Pavaroti: Celeste Aida

Continuando a série clássica, Pavaroti em Celeste Aida...

Cecília Meireles


Canção da tarde no campo
Caminho do campo verde
estrada depois de estrada.
Cerca de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.

Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!

Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a tarde é minha.

Os meus passos no caminho
são como os passos da lua;
vou chegando, vai fugindo,
minha alma é a sombra da tua.

Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.

De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto,
meu peito é puro deserto.
Subo monte, desço monte.

Eu ando sozinha
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.


Se quel guerrierSe o guerreiro
Io fossi! se il mio sognoEu era! se o meu sonho
S'avverasse!... Un esercito di prodiS'avverasse! ... Um exército de bravos
Da me guidato... e la vittoria... e il plausoGuiado por mim ... e a vitória ... e aplausos
Di Menfi tutta! E a te, mia dolce Aida,Todos Memphis! E você, minha doce Aida,
Tornar di lauri cinto...Retorno de louro cingido ...
Dirti: per te ho pugnato, per to ho vinto!Dizer-lhe: Eu entrego a você, pois tenho de ganhar!
Celeste Aida, forma divina.Celeste Aida, forma divina.
Mistico serto di luce e fior,Guirlanda mística de luz e flores,
Del mio pensiero tu sei regina,Você é a rainha do meu pensamento,
Tu di mia vita sei lo splendor.Você é o esplendor da minha vida.
Il tuo bel cielo vorrei redarti,O seu belo céu vou dar-te
Le dolci brezze del patrio suol;A brisa suave de sua terra natal;
Un regal serta sul crin posarti,A Caserta real em posarti crin,
Ergerti un trono vicino al sol.Erguer-tei trono um perto do sol.
Celeste Aida, forma divina,Celeste Aida, forma divina,
Mistico raggio di luce e fior,Místico raio de luz e de flores, 


domingo, 2 de fevereiro de 2014

272 - Pessoa: Estado de alma; Mozart: Requiem

Para quem gostou do Lacrimosa de Mozart, com a regência de Karajan, hoje a obra completa, com a melhor interpretação do Requiem, sob a regência de John Eliot Gardiner, acompanhado de Fernando Pessoa. Segue também o link para a partitura.


Fernando Pessoa

ESTADO DE ALMA

Inutilmente vivida
Acumula-se-me a vida
Em anos, meses e dias;
Inutilmente vivida,
Sem dores nem alegrias,
Mas só em monotonias
De mágoa incompreendida...
Mágoa sem fogo de vida
Que a faça viva e sentida;
Mas a mágoa de mãos frias
E inaptas para arte ou lida,
Nem pra gestos de agonias
Ou mostras de alma vencida.
Nada: inerte e dolorida,
A minha dor se extasia
Por não ser, e tem só vida
Para em torno a noite fria
Sentir vaga e indefinida...

Ouça a música no link abaixo:

 


Baixe a partitura no link abaixo:

Requiem - Mozart: Partitura

sábado, 1 de fevereiro de 2014

271 - Edgar Allan Poe : Annabel Lee; MOZART Requiem - LACRIMOSA - Herbert von Karajan

Edgar Allan Poe - Annabel Lee

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.
Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.
E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.
E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.
Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.
Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mundo

MOZART Requiem - LACRIMOSA - Herbert von Karajan