Pesquisar este blog

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

213 - Adélia Prado – Casamento; Maria Betânia – Gostoso demais

Adélia Prado fala com muita sensibilidade de compartilhamento, de parceria. O que faz um amor ser “Gostoso demais”.

Adélia Prado – Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como “este foi difícil”
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

Tô com saudade de tu, meu desejo
Tô com saudade do beijo e do mel
Do teu olhar carinhoso
Do teu abraço gostoso
De passear no teu céu
É tão difícil ficar sem você
O teu amor é gostoso demais
Teu cheiro me dá prazer
Quando estou com você
Estou nos braços da paz

Pensamento viaja
E vai buscar meu bem-querer
Não posso ser feliz, assim
Tem dó de mim
O que é que eu posso fazer

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

212 - Lorca - Canção;Vinícius de Moraes – Para viver um grande amor

Lorca conta a conversa das pombas com a lua e o sol... conversa que só se explica em viver um grande amor.

Lorca - Canção

Pelos ramos do loureiro
vi duas pombas escuras.
Uma delas era o sol,
a outra era a lua.
Vizinhitas, lhes disse eu,
- onde é minha sepultura?
Em minha cauda, o sol disse;
na minha garganta, a lua.
E eu, que ia caminhando
com terra pela cintura,
vi duas águias de neve
e uma rapariga nua.
Uma delas era a outra
e a rapariga nenhuma.
Aguiazinhas, lhes disse eu,
- onde é minha sepultura?
Em minha cauda, o sol disse;
na minha garganta, a lua.
Pelos ramos do loureiro
eu vi duas pombas nuas.
Uma delas era a outra
e as duas eram nenhuma.


Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia
Falado
Para viver um grande amor, preciso
É muita concentração e muito siso
Muita seriedade e pouco riso
Para viver um grande amor
Para viver um grande amor, mister
É ser um homem de uma só mulher
Pois ser de muitas - poxa! - é pra quem quer
Nem tem nenhum valor
Para viver um grande amor, primeiro
É preciso sagrar-se cavalheiro
E ser de sua dama por inteiro
Seja lá como for
Há de fazer do corpo uma morada
Onde clausure-se a mulher amada
E postar-se de fora com uma espada
Para viver um grande amor
Cantado
Eu não ando só,
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia
Falado
Para viver um grande amor direito
Não basta apenas ser um bom sujeito
É preciso também ter muito peito
Peito de remador
É sempre necessário ter em vista
Um crédito de rosas no florista
Muito mais, muito mais que na modista
Para viver um grande amor
Conta ponto saber fazer coisinhas
Ovos mexidos, camarões, sopinhas
Molhos, filés com fritas, comidinhas
Para depois do amor
E o que há de melhor que ir pra cozinha
E preparar com amor uma galinha
Com uma rica e gostosa farofinha
Para o seu grande amor?
Cantado
Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia
Falado
Para viver um grande amor, é muito
Muito importante viver sempre junto
E até ser, se possível, um só defunto
Pra não morrer de dor
É preciso um cuidado permanente
Não só com o corpo, mas também com a mente
Pois qualquer "baixo" seu a amada sente
E esfria um pouco o amor
Há de ser bem cortês sem cortesia
Doce e conciliador sem covardia
Saber ganhar dinheiro com poesia
Não ser um ganhador
Mas tudo isso não adianta nada
Se nesta selva escura e desvairada
Não se souber achar a grande amada
Para viver um grande amor!
Cantado

Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia

terça-feira, 6 de agosto de 2013

211 - Fernando Pessoa: Talvez que seja a brisa; Toquinho e Vinícius: Marcha da 4ª feira de cinzas

Pessoa fala em sentir e recordar-se... como Vinícius após o fim do carnaval, onde “saudades e cinzas foi o que restou”.

Fernando Pessoa

Talvez que seja a brisa 
Que ronda o fim da estrada, 
Talvez seja o silêncio, 
Talvez não seja nada…
Que coisa é que na tarde 
Me entristece sem ser? 
Sinto como se houvesse 
Um mal que acontecer.
Mas sinto o mal que vem 
Como se já passasse… 
Que coisa é que faz isto 
Sentir-se e recordar-se?


Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais
Brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas
Foi o que restou
Pelas ruas o que se vê
É uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando
Cantigas de amor
E no entanto é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
É o povo que dança
Contente da vida
Feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz
Tanto amor para amar de que a gente nem sabe

Quem me dera viver pra ver
E brincar outros carnavais
Com a beleza
Dos velhos carnavais
Que marchas tão lindas
E o povo cantando
Seu canto de paz
Seu canto de paz

domingo, 4 de agosto de 2013

210 - Pablo Neruda - Talvez não ser; Celtic Woman – Over the rainbow

Neruda fala sobre ser... será que isso acontece além do arco-íris? Essa música já tinha sido postada tocada por Keith Jarret, mas a versão a capela dessas meninas é de arrepiar.

Pablo Neruda

Talvez não ser,
é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando o meio-dia com uma flor azul,
sem que caminhes mais tarde pela névoa e pelos tijolos,
sem essa luz que levas na mão,
que, talvez, outros não verão dourada,
que talvez ninguém soube que crescia como a origem rubra da rosa,
sem que sejas enfim, sem que viesses brusca, incitante
Conhecer minha vida, rajada de roseira. Trigo do vento,
E desde então, sou porque TU ÉS
E desde então ÉS SOU e SOMOS...
E por amor... SEREI, SERÁS, SEREMOS.


Somewhere over the rainbow,
Way up high
There's a land that I heard of once,
In a lullaby.
Somewhere over the rainbow,
Skies are blue.
And the dreams that you dare to dream
Really do come true.
Someday I'll wish upon a star
And wake up where the clouds are far behind me...
Where troubles melt like lemon drops,
Way above the chimney tops,
That's where you'll find me...
Somewhere...
Over the rainbow
Bluebirds fly,
Birds fly over the rainbow
Why oh why can't I?

Além do Arco-íris

Em algum lugar além do arco-íris
Bem lá encima
Tem uma terra, que eu ouvi falar uma vez
Numa canção de ninar
Em algum lugar além do arco-íris
O céu é azul
E o sonhos que você ousa sonhar
Se realizam mesmo.
Um dia eu vou pedir a uma estrela
E acordar onde as nuvens estão distantes atrás de mim...
Onde problemas tem gosto de bala de limão
Acima das chaminés
É onde você irá me encontrar
Em algum lugar
Além do arco-íris
Pássaros azuis voam
Pássaros voam além do arco-íris

Então por que eu não posso?

sábado, 3 de agosto de 2013

209 - Fernando Pessoa: Na noite que me desconhece; Beethoven – Sonata ao luar

Pessoa sonha com a lua ainda por haver, e pergunta ao coração: que queres? Para ajudar a refletir, a Sonata ao luar de Beethoven.

Fernando Pessoa

Na noite que me desconhece
O luar vago, transparece
Da lua ainda por haver.
Sonho. Não sei o que me esquece,
Nem sei o que prefiro ser.
Hora intermédia entre o que passa,
Que névoa incógnita esvoaça
Entre o que sinto e o que sou?
A brisa alheiamente abraça.
Durmo. Não sei quem é que estou.
Dói-me tudo por não ser nada.
Da grande noite embainhada
Ninguém tira a conclusão.
Coração, queres? Tudo enfada
Antes só sintas, coração.


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

208 - Lorca - Narciso; Titãs – Por que eu sei que é amor

Lorca procura a si mesmo no menino Narciso... busca que tem sentido porque sabe que é amor...

Lorca - Narciso

Menino,
Vais cair no rio!

No fundo há uma rosa,
e na rosa há outro rio,

Olha aquele pássaro! Olha
aquele pássaro amarelo!

Cairam-me os olhos
dentro dágua.

Deus meu!
Ele escorrega! Menino!

... e na rosa estou eu mesmo.

Quando se perdeu na água
compreendi. Mas não explico.


Porque eu sei que é amor
Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor
Eu não peço nenhuma prova
Mesmo que você não esteja aqui
O amor está aqui
Agora
Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir
Embora
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
Eu peço somente
O que eu puder dar (2x)
Porque eu sei que é amor
Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor
Sei que só há uma resposta
Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui
Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim
Mais vivo
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar
Eu peço somente
O que eu puder dar (4x)

Porque eu sei que é amor (3x)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

207 - Mário Quintana - Bilhete; Elis Regina – Dois pra lá, dois pra cá

Quintana pede para ser amado baixinho... no fim é sempre dois pra lá, dois pra cá.

Mário Quintana - Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...


Sentindo o frio
Em minha alma
Te convidei prá dançar
A tua voz me acalmava
São dois prá lá
Dois prá cá...
Meu coração traiçoeiro
Batia mais que o bongô
Tremia mais que as maracas
Descompassado de amor...
Minha cabeça rodando
Rodava mais que os casais
O teu perfume gardênia
E não me perguntes mais...
A tua mão no pescoço
As tuas costas macias
Por quanto tempo rondaram
As minhas noites vazias...
No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar...
Eu hoje, me embriagando
De whisky com guaraná
Ouvi tua voz murmurando
São dois prá lá
Dois prá cá...
No dedo um falso brilhante
Brincos iguais ao colar
E a ponta de um torturante
Band-aid no calcanhar...

Eu hoje, me embriagando
De whisky com guaraná
Ouvi tua voz murmurando
São dois prá lá
Dois prá cá...