Cecília Meireles fala sobre quanto a felicidade é fugidia...
e um tempo despovoado e profundo persiste. Mas é sempre melhor ter vivido... e
amado, mesmo que não demore. No final, é melhor agradecer... “Gracias a la vida,
que me ha dado tanto...”
Cecília Meireles - Epigrama
n. 2
És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.
Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para sempre a vida ficar triste:
Porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo despovoado e profundo, persiste.
És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.
Felicidade, és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste para sempre a vida ficar triste:
Porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo despovoado e profundo, persiste.
Gracias a
la vida que me ha dado tanto
Me dio
dos luceros que cuando los abro
Perfecto
distingo lo negro del blanco
Y en el
alto cielo su fondo estrellado
Y en las
multitudes el hombre que yo amo
Gracias a
la vida que me ha dado tanto
Me ha
dado el oído que en todo su ancho
Graba
noche y día grillos y canarios
Martirios,
turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz
tan tierna de mi bien amado
Gracias a
la vida que me ha dado tanto
Me ha
dado el sonido y el abecedario
Con él,
las palabras que pienso y declaro
Madre,
amigo, hermano
Y luz
alumbrando la ruta del alma del que estoy amando
Gracias a
la vida que me ha dado tanto
Me ha
dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos
anduve ciudades y charcos
Playas y
desiertos, montañas y llanos
Y la casa
tuya, tu calle y tu patio
Gracias a
la vida que me ha dado tanto
Me dio el
corazón que agita su marco
Cuando
miro el fruto del cerebro humano
Cuando
miro el bueno tan lejos del malo
Cuando
miro el fondo de tus ojos claros
Gracias a
la vida que me ha dado tanto
Me ha
dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo
distingo dicha de quebranto
Los dos
materiales que forman mi canto
Y el
canto de ustedes que es el mismo canto
Y el
canto de todos que es mi propio canto
Gracias a
la vida, gracias a la vida
Graças à Vida
Graças à
vida que me deu tanto
Me deu
dois olhos que quando os abro
Distinguo
perfeitamente o preto do branco
E no alto
céu seu fundo estrelado
E nas
multidões o homem que eu amo
Graças à
vida que me deu tanto
Me deu o
ouvido que em todo seu comprimento
Grava
noite e dia grilos e canários
Martírios,
turbinas, latidos, aguaceiros
E a voz
tão terna de meu bem amado
Graças à
vida que me deu tanto
Me deu o
som e o abecedário
Com ele,
as palavras que penso e declaro
Mãe,
amigo, irmão
E luz
iluminando a rota da alma do que estou amando
Graças à
vida que me deu tanto
Me deu a
marcha de meus pés cansados
Com eles
andei cidades e charcos
Praias e
desertos, montanhas e planícies
E a casa
sua, sua rua e seu pátio
Graças à
vida que me deu tanto
Me deu o
coração que agita seu marco
Quando
olho o fruto do cérebro humano
Quando
olho o bom tão longe do mal
Quando
olho o fundo de seus olhos claros
Graças à
vida que me deu tanto
Me deu o
riso e me deu o pranto
Assim eu
distinguo fortuna de quebranto
Os dois
materiais que formam meu canto
E o canto
de vocês que é o mesmo canto
E o canto
de todos que é meu próprio canto
Graças à
vida, graças à vida
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