Pablo Neruda
OH AMOR, oh raio louco e ameaça
purpúrea,
me visitas e sobes por tua viçosa
escada
o castelo que o tempo coroou de
neblinas,
as pálidas paredes do coração fechado.
Ninguém saberá que só foi a delicadeza
construindo cristais duros como cidades
e que o sangue abria túneis inditosos
sem que sua monarquia derrubasse o
inverno.
Por isso, amor, tua boca, teu pé, tua
luz, tuas penas,
foram o patrimônio da vida, os dons
sagrados da chuva, da natureza
que recebe e levanta a gravidez do
grão,
a tempestade secreta do vinho nas
cantinas,
a chama do cereal no solo.
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