Pablo Neruda
NOS BOSQUES, perdido, cortei um ramo
escuro
e aos lábios, sedento, levantei seu
sussurro:
era talvez a voz da chuva chorando,
um sino fendido ou um coração cortado.
Algo que de tão longe me parecia
oculto gravemente, coberto pela terra,
um grito ensurdecido por imensos
outonos,
pela entreaberta e úmida escuridão das
folhas.
Por ali, despertando dos sonhos do
bosque,
o ramo de avelã cantou sob minha boca
e seu vagante olor subiu por meu
critério
como se me buscassem de repente as
raízes
que abandonei, a terra perdida com
minha infância,
e me detive ferido pelo aroma errante.
Debulhar
o trigo
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão
E se fartar de pão
Decepar
a cana
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Recolher a garapa da cana
Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar
a terra
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão
Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão
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