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sábado, 30 de março de 2013

89 - Khalil Gibran: Quando o amor acenar; Maria Betânia: Explode coração

Gibran aconselha a “Quando o amor acenar, siga-o ainda que por caminhos ásperos e íngremes”. Tudo deve-se fazer com ele, cultivá-lo, transformá-lo, como se faz com o trigo até que ele se transforme em pão, “para alimentar o corpo e o coração”. Assim, Maria Betânia também aconselha que quando o amor aparecer, não se finja, não se esconda. Que a gente se abra para que a vida entre. Até que não dê mais pra segurar, explode coração. Pena que algumas almas não se permitam essa exposição, tenham medo de ficar nuas...

Khalil Gibran

Quando o amor acenar,
siga-o ainda que por caminhos
ásperos e íngremes.
Debulha-o até deixá-lo nu.
Transforma-o,
livrando-o de sua palha.
Tritura-o,
até torná-lo branco.
Amassa-o,
até deixá-lo macio;
e,então,submete ao fogo
para que se transforma em pão
para alimentar o corpo e o coração!

Maria Betânia - Explode coração

Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não posso mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar e me cortou
Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã
Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu
Chorando, sofrendo, gostando, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Sentindo o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração..
.

sexta-feira, 29 de março de 2013

88 - Camões:Alma minha gentil, que te partiste; Paulinho Pedra Azul - Bem te vi

Hoje, sexta-feira santa, lembrei que alguns amores nunca morrem. Camões lembra da mulher amada que morreu "Alma minha gentil que te partiste, tão cedo dessa vida descontente", mas por quem ainda o amor que sente é tão grande que termina o poema com um pedido: "Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou." Já Paulinho Pedra Azul também lembra, agora em música, de um grande amor de quem também foi separado pela morte... "Bem te quis, bem te quis, E ainda quero muito mais". Mas o desejo não é de acompanhá-la, mas de vê-la uma última vez que seja: "Me beije só mais uma vez, Depois volte pra lá." Perder um amor para a morte (Nunca mais, como diz Poe em O Corvo) deve ser uma sensação devastadora. Mas será que perder um amor para a morte é mais doído que perder um amor para a vida?

Luis de Camões

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Algúa cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


Paulinho Pedra Azul - Bem te vi

Bem te vi, bem te vi
Andar por um jardim em flor
Chamando os bichos de amor
Tua boca pingava mel
Bem te quis, bem te quis
E ainda quero muito mais
Maior que a imensidão da paz
Bem maior que o sol
Onde estás?
Voei por este céu azul
Andei estradas do além
Onde estará meu bem?
Onde estás?
Nas nuvens ou na insensatez
Me beije só mais uma vez
Depois volte prá lá.

quinta-feira, 28 de março de 2013

87 - Frederico Garcia Lorca: Se as minhas mãos pudessem desfolhar; Nana Caymmi - Resposta ao tempo

Lorca pensando sobre o amor que se deixou no tempo, e em cujo nome pensamos nas noites escuras. O nome começa a soar cada vez mais distante. Desejando não perder o sentimento desse amor, Lorca pergunta-se "Amar-te-ei como então alguma vez? Que culpa tem meu coração?", como a culpar-se por começar a se desvencilhar de um amor que se queria pra sempre... E pensa no que virá "Se a névoa se esfuma, que outra paixão me espera?" Será que outra paixão poderá tomar o lugar da que se quis tanto?
A resposta para isso provavelmente está no tempo, só ele poderá dizer, E dada por Nana Caymmi em "Resposta ao tempo"... essa letra tem que ser lida algumas vezes... e refletida.

Frederico Garcia Lorca 
Se as minhas mãos pudessem desfolhar

Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranqüila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!

Nana Caymmi - Resposta ao tempo

Batidas na porta da frente
É o tempo
Eu bebo um pouquinho
Prá ter argumento
Mas fico sem jeito
Calado, ele ri
Ele zomba
Do quanto eu chorei
Porque sabe passar
E eu não sei
Num dia azul de verão
Sinto o vento
Há folhas no meu coração
É o tempo
Recordo um amor que perdi
Ele ri
Diz que somos iguais
Se eu notei
Pois não sabe ficar
E eu também não sei
E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos
Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto
E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer
Respondo que ele aprisiona
Eu liberto
Que ele adormece as paixões
Eu desperto
E o tempo se rói
Com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor
Prá tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder
Me esquecer


quarta-feira, 27 de março de 2013

86 - Fernando Pessoa: Multipliquei-me, para me sentir; Gilberto Gil – Se eu quiser falar com Deus

Fernando Pessoa fala em despir-se e entregar-se, e erguer altares a diferentes deuses. Para despir-se e falar com Deus, Gilberto Gil coloca que, como a poesia que dá nome a esse blog, temos que ter “al alma e o corpo nus”. Pena que isso não foi possível quando foi preciso...

Fernando Pessoa

Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me, Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um Deus diferente.

Gilberto Gil – Se eu quiser falar com Deus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nois
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus...
Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração...
E se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Eu tenho que subir aos céus
Sem cordas prá segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar!

terça-feira, 26 de março de 2013

85 - Pablo Neruda: Quando eu morrer quero tuas mãos em meus olhos; Freddie Mercury: Who wants to live forever

Pablo Neruda falando sobre um amor tão grande que, após a morte, “eu, adormecido, te espero... Por isso segue tu florescendo, florida... para que assim conheçam a razão do meu canto.” Esse tipo de amor que ganha de tudo, vence tudo.
Falando de amor e morte, Freddie Mercury fala de um amor que não aconteceu. “Quem ousa amar para sempre? Quando o amor deve morrer?... Quem ama pra sempre afinal?” O desejo é o de amar pra sempre. O duro de acabar uma relação na qual se amou muito nem é a separação da pessoa que já foi amada. O difícil é ter que se convencer que os sonhos não são eternos.

Pablo Neruda – Soneto 89

QUANDO eu morrer quero tuas mãos em meus olhos:
quero a luz e o trigo de tuas mãos amadas
passar uma vez mais sobre mim seu viço:
sentir a suavidade que mudou meu destino.

Quero que vivas enquanto eu, adormecido, te espero,
quero que teus ouvidos sigam ouvindo o vento,
que cheires o amor do mar que amamos juntos
e que sigas pisando a areia que pisamos.

Quero que o que amo continue vivo
e a ti amei e cantei sobre todas as coisas,
por isso segue tu florescendo, florida,

para que alcances tudo o que meu amor te ordena,
para que passeie minha sombra por teu pêlo,
para que assim conheçam a razão de meu canto.

Freddie Mercury - Who Wants To Live Forever

There's no time for us
There's no place for us
What is this thing that builds our dreams
Yet slips away from us
Who wants to live forever?
Who wants to live forever?
There's no chance for us
It's all decided for us
This world has only one sweet moment
Set aside for us
Who wants to live forever?
Who wants to live forever?
Who dares to love forever?
When love must die
But touch my tears with your lips
Touch my world with your fingertips
And we can have forever
And we can love forever
Forever is our today
Who wants to live forever?
Who wants to live forever?
Forever is our today
Who waits forever anyway?

Quem Quer Viver Para Sempre

Não há tempo para nós
Não há lugar para nós
Que coisa é essa que constrói nossos sonhos
E vai para longe de nós?
Quem quer viver para sempre?
Quem quer viver para sempre?
Não existe chance para nós
Está tudo decidido para nós
Esse mundo tem somente um momento doce
Reservado para nós
Quem quer viver para sempre?
Quem quer viver para sempre?
Quem ousa amar para sempre?
Quando o amor deve morrer?
Então toque minhas lágrimas com seus lábios
Toque meu mundo com a ponta dos seus dedos
E poderemos viver para sempre
E poderemos amar para sempre
Para sempre é nosso hoje
Quem quer viver para sempre?
Quem quer viver para sempre?
Para sempre é nosso hoje
Quem espera para sempre, afinal?

segunda-feira, 25 de março de 2013

84- Pablo Neruda: Já não encontrarão meus olhos em seus olhos; Freddie Mercury e Monserrat Caballe: How can I go on

Pablo Neruda dando adeus... “não se encontrarão meus olhos em seus olhos...  mas onde você for, levarei seu olhar, e onde você caminhar levará minha dor”.  Aqui a dor do fim precoce... O que  nos faz pensar em como continuar. E aí Freddie Mercury e Montserrat Caballe cantam How can I go on – pensando em como podemos continuar nesse mundo de loucura... como podemos esquecer aqueles sonhos bonitos que compartilhamos... eles se foram e não há como encontrá-los. Como eu posso seguir em frente?

Pablo Neruda

Já não encontrarão meus olhos em seus olhos
Já não se edulçará junto a ti a minha dor.
Mas aonde você for, levarei seu olhar
E aonde você caminhar levará minha dor
Fui teu, foste minha, que mais??
Juntos deixamos lembranças onde nosso amor passou.
Fui teu, foste minha,
Tu serás de quem te ame,
De quem te colha em teu campo o que eu plantei.
Me vou, estou triste mas, sempre estou triste.
Não sei para onde vou.
Desde seu coração... me diz adeus uma criança
E eu lhe digo... adeus.


How can I go on?

How can I go on ?
How can I go on this way...
Where all the salt is taken from the sea
I stand dethroned
I'm naked and I bleed
But when your finger points so savagely
Is anybody there to believe in me ?
To hear my plea and take care of me ?
How can I go on
From day to day
Who can make me strong in every way
Where can I be safe
Where can I belong
In this great big world of sadness
How can I forget
Those beautiful dreams that we shared
They're lost and they're no way to be found
How can I go on ?
Sometimes I start to tremble in the dark
I cannot see
When people frighten me
I try to hide myself so far from the crowd
Is anybody there to comfort me
Lord...take care of me
How can I go on
From day to day
Who can make me strong in every way
Where can I be safe
Where can I belong
In this great big world of sadness
How can I forget
Those beautiful dreams that we shared
They're lost and they're no where to be found
How can I go on ?

Como Eu Posso Seguir Em Frente

Como eu posso seguir em frente?
como eu posso seguir em frente desse jeito...
Onde todo o sal é retirado do mar
Eu fico destronado
eu estou nú e sangrando
Mas quando seus dedos apontam tão selvagemente
Há alguém aí para acreditar em mim?
Para ouvir o meu apelo e cuidar de mim?
Como eu posso continuar
dia após dia
Quem pode me fortalecer em todas as maneiras
Onde eu posso estar a salvo
Onde é o meu lugar
Nesse grande mundo de tristeza
Como eu posso esquecer
Aqueles lindos sonhos que nós compartilhamos
eles estão perdidos e não podem ser encontrados
Como eu posso seguir em frente?
Às vezes eu começo a tremer no escuro
Eu não consigo ver
Quando as pessoas me assustam
Eu tento me esconder bem longe da multidão
Há alguém aí para me confortar?
Senhor...toma contar de mim
Como eu posso continuar
dia após dia
Quem pode me fortalecer em todas as maneiras
Onde eu posso estar a salvo
Onde é o meu lugar
Nesse grande mundo de tristeza
Como eu posso esquecer
Aqueles lindos sonhos que nós compartilhamos
eles estão perdidos e não podem ser encontrados
Como eu posso seguir em frente?

domingo, 24 de março de 2013

83 - Pablo Neruda: Tira-me o pão, se queres; Orlando Silva: Rosa

Pablo Neruda pede tire-me tudo, porém nunca me tires o teu riso. Não me tires a rosa... 
Essas duas frases me lembram de duas outras obras primas. A primeira é o Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry... Falando sobre o riso... Ao perder o Pequeno Príncipe, o aviador afirma:

E eu compreendi que não podia suportar a ideia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto... (Antoine de Saint-Exupéry)

A isso o príncipezinho responde: “ – E quando estiveres consolado (a gente sempre se consola), tu ficarás contente por teres me conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E às vezes abrirás tua janela apenas pelo simples prazer... E teus amigos ficarão espantados de ver-te rir olhando o céu. Tu explicarás então: “Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!” E eles te julgarão louco. Será uma peça que te prego...
E riu de novo.
– Será como se eu lhe houvesse dado, em vez de estrelas, montes de pequenos guizos que sabem rir...”


Tomara que a gente sempre se console...

A outra obra, que também me lembra o Pequeno Príncipe, é Rosa, de Pixinguinha, aqui cantada por Orlando Silva... Uma das maiores declarações de amor que conheço. Rosa que também lembra o Pequeno Príncipe...




Pablo Neruda

Teu Riso

Tira-me o pão, se queres,
Tira-me o ar, porém nunca me tires o teu riso.

Não me tires a rosa, a lança que debulhas,
A água que de repente em tua alegria,
Estala essa onda repentina de prata que te nasce,

De áspera luta volto com olhos cansados
por vezes de ter visto a terra que não muda,
Mas ao chegar,
O teu riso sobe ao céu me buscando,
E abre para mim todas as portas desta vida.

Amor meu, no momento mais escuro,
Desata o teu riso, e se, acaso vês que meu sangue
Mancha as pedras do caminho,
Ri, porque teu riso será em minhas mãos
Como uma espada nova.

Junto do mar, no outono,
Teu riso deve erguer sua cascata de espuma,
E em primavera, amor quero teu riso
Como a flor azul, a rosa da minha pátria sonora.

Que te rias da noite, ri do dia, da lua,
Das ruas tortas da ilha,
Ri deste desajeitado rapaz que te ama tanto,
Porém, quando mal abro os olhos, quando os fecho,
Quando os meus passos vão, quando os meus passos voltam,
Nega-me o pão, o ar, a luz, a primavera,
Porém nunca o teu riso,
Senão amor, eu morro.

Orlando Silva - Rosa

Tu és, divina e graciosa, estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada e formada com ardor
Da alma da mais linda flor de mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
O teu coração junto ao meu lanceado pregado e crucificado 
Sobre a rósea cruz do arfante peito teu
Tu és a forma ideal, estátua magistral oh alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação que em todo coração sepultas o amor
O riso, a fé e a dor em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela, és mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão, se ouso confessar-te eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus quanto é triste a incerteza de um amor 
Que mais me faz penar em esperar em conduzir-te um dia aos pés do altar
Jurar, aos pés do onipotente em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos em nuvens de beijos
Hei de te envolver até meu padecer de todo fenecer



sábado, 23 de março de 2013

82 - Pablo Neruda: A Rainha; Tribalistas: É você

Pablo Neruda escolhe a sua rainha... não importa que existam melhores ou mais be, que as... para ele, ela é a Rainha. Como os Tribalistas em é você, que “invadiu o centro do espelho ... e  que na vida vai comigo agora...”

Pablo Neruda

A Rainha

Eu te consagrei rainha.
Existem mais altas que tu, mais altas.
Existem mais puras que tu, mais puras.
Existem mais belas que tu, mais belas.

Tu porém ÉS a rainha.
Quando vais pela rua,
Ninguém vê tua coroa de cristal,
Ninguém olha o tapete de ouro rubro que pisas onde passas,
O tapete que não existe.

E quando apareces, soam todos os rios em meu corpo,
Ressoam pelo céu as campanas e um hino enche o mundo.

Só tu e eu,
Só tu e eu, amor meu,
O escutamos.


Tribalistas – É você

É você
Só você
Que na vida vai comigo agora
Nós dois na floresta e no salão
Nada mais
Deita no meu peito e me devora
Na vida só resta seguir
Um risco, um passo, um gesto rio afora
É você
Só você
Que invadiu o centro do espelho
Nós dois na biblioteca e no saguão
Ninguém mais
Deita no meu leito e se demora
Na vida só resta seguir
Um risco, um passo, um gesto rio afora
Na vida só resta seguir
Um ritmo, um pacto e o resto rio afora

sexta-feira, 22 de março de 2013

81: Alceu Silveira: Porque não fiz versos a você; Lulu Santos: O último romântico

Lulu Santos canta o último romântico: “Tolice é viver a vida assim sem aventura”. Aí lembrei de um romântico antigo. O pema de hoje é de Alceu Silveira, meu avô, feito para minha vó Julinha... Acho que o romantismo vem mesmo de família...

Porque não fiz versos à você

                               Alceu Silveira (1937)
  
Cartas de amor,poemas,quadrinhas e tercetos,
completas histórias de amor em simples sonetos.
Por que não hei de  também  fazer um poema de ternura,
e em cada verso louvar a amada criatura?
Assim pensando, tomei da pena e iniciei,
primeiro e segundo versos para o papel transportei.
Mas não pude continuar...Impossível ! Parei !
Como prender dentro da métrica e da rima
um amor que não tem limite?
Sabe-se que existe!
Que tem a grandeza do oceano,
 e é simples como uma gota de orvalho,
que é maleável como um arbusto
e inabalável como um carvalho.
Que não teve início,
e que será interminável.
Que distâncias não mede,
que não olha hora,
que verte lágrimas quando contente,
e que ri quando chora.
Que traduz a doçura da felicidade,
e a beleza da ilusão,
e é melodia embaladora modulada pelo coração.
Sem tirar-lhe a cor, tamanho ou expressão, e deformá-lo,
é completamente impossível num soneto colocá-lo !
Seria o mesmo que pretender guardar na mão fechada,
a beleza da imensidão celeste em uma noite estrelada !
E aí está a razão tão simples
de terem gorado os versos que quiz fazer à minha amada...
E num final sem estilo, sem razão nem nada,
só consegui dizer estes versos singelos e puros como a verdade:
És o meu mais doce sonho transportado  à realidade !

Lulu Santos - O último romântico

Só falta abandonar a velha escola
Tomar o mundo feito coca-cola
Fazer da minha vida sempre o meu passeio público
E ao mesmo tempo fazer dela o meu caminho só, único
Talvez eu seja o último romântico
Dos litorais desse oceano atlântico
Só falta reunir a zona norte à zona sul
Iluminar a vida já que a morte cai do azul
Só falta de querer
Te ganhar e te perder
Falta eu acordar, ser gente grande pra poder chorar
Me dá um beijo então, aperta minha mão
Tolice é viver a vida assim sem aventura
Deixa ser pelo coração
Se é loucura então, melhor não ter razão

quinta-feira, 21 de março de 2013

80 - Fernando Pessoa: Mais triste do que o que acontece; Ney Matogrosso – Balada do louco

Fernando Pessoa triste com a lembrança do que não aconteceu. “E há gente que não enlouquece?” Deve haver... mas às vezes enlouquecer é só uma questão de ponto de vista, como fala Ney Matogrosso em Balada do louco: “Mais louco é quem me diz, e não é feliz...”

Mais triste do que o que acontece
É o que nunca aconteceu.
Meu coração, quem o entristece:
Quem o fez meu?

Na nuvem, vem o que escurece
O grande campo sob o céu.
Memórias? Tudo é o que esquece.
A vida é quanto se perdeu.
E há gente que não enlouquece?
Ai do que em mim me chamo eu!

Ney Matogrosso – Balada do louco

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz

quarta-feira, 20 de março de 2013

79 - Luís de Camões - Transforma-se o amador na cousa amada; Roberto Carlos: Como vai você

Camões afirma que “transforma-se o amador na cousa amada... se nela está minha alma transformada.” Às vezes sentimos que estamos perto mesmo se longe. Quase assustador, podemos sentir as angústias e alegrias de quem gostamos mesmo de longe... vem como um sentimento de angústia ou de alegria. Alguém muito querido não estava bem... e a sensação pode se fazer sentir ao longe... mas ainda bem que tudo está bem.
Esse saber da vida de quem se gosta mesmo ao longe... Roberto Carlos canta... “Como vai você ? Eu preciso saber da sua vida Peça a alguém pra me contar sobre o seu dia Anoiteceu e eu preciso só saber Como vai você ?”...

Luís de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está ligada.

Mas esta linda e pura semidéia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assim como a alma minha se conforma,

está no pensamento como idéia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.

Roberto Carlos – Como vai você
Como vai você ?
Eu preciso saber da sua vida
Peça a alguém pra me contar sobre o seu dia
Anoiteceu e eu preciso só saber
Como vai você ?
Que já modificou a minha vida
Razão de minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você
Vem, que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz
Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu só preciso saber
Como vai você
Como vai você ?
Que já modificou a minha vida
Razão da minha paz já esquecida
Nem sei se gosto mais de mim ou de você
Vem, que a sede de te amar me faz melhor
Eu quero amanhecer ao seu redor
Preciso tanto me fazer feliz
Vem, que o tempo pode afastar nós dois
Não deixe tanta vida pra depois
Eu só preciso saber
Como vai você